segunda-feira, 8 de fevereiro de 2016

MUSAS DOS ANOS 60

Diz a mitologia clássica grega, que as musas (filhas de Zeus e Mnemosyne) eram 9. Cada uma tinha um ou vários atributos particulares. Dessa forma, as musas que aparecerão a seguir, não são escolhidas apenas pela beleza, mas também pelas várias qualidades associadas e inspiradoras.
MUSAS
Algumas são musas de todos nós. Outras inspiraram aqueles que nos inspiraram nesse tempo e ainda hoje. Não estão todas aqui. A lista seria longuíssima para ser justa. É uma visão estritamente pessoal.

NORMA BENGUELL
Norma Aparecida Almeida Pinto Guimarães D’Alma Bengell, nasceu em 21 de setembro de 1935. Atriz, vedete, cineasta, cantora e compositora a quem tive o prazer de conhecer pessoalmente. De grande beleza e talento, protagonizou o primeiro nu frontal do cinema brasileiro, em “Os Cafajestes” (1962), de Ruy Guerra, que lhe deu o prêmio Saci de melhor atriz. Trabalhou em “O Pagador de Promessas”, de Anselmo Duarte, que foi o vencedor da Palma de Ouro no Festival de Cannes, também em 1962. Norma Bengell foi uma superstar brasileira que brilhou também em terras italiana, francesa e norte-americana.
No cinema e no teatro a lista de suas participações é longa. Praticamente passou por toda a experiência estética do Cinema Novo. Para citar apenas alguns filmes, trabalhou com Walter Hugo Khouri (Noite Vazia), Julio Bressane (O Anjo Nasceu), Glauber Rocha (A Idade da Terra), novamente Ruy Guerra em “Os Deuses e os Mortos”, de 1970, de grande sucesso no Festival de Berlim. Badalada pelo “Cahiers du Cinema”, conceituada revista francesa, La Bengell foi figura importante no imaginário nacional desde sua entrada no universo cinematográfico através de chanchadas como “O Homem do Sputinik” (1959) de Carlos Manga, onde contracenou com Oscarito. Para Glauber Rocha, Norma simbolizava a “força telúrica do útero da mulher brasileira”. Em 1984 trabalhou no clip “She’s the Boss” com Mick Jagger.
Como diretora filmou “Eternamente Pagu” (1987), que tinha como cenário a Semana de Arte Moderna de 1922. Em 1997 dirigiu “O Guarani”, mas o Tribunal de Contas da União a acusou de uso irregular da verba destinada ao projeto. Em 2005, seus últimos trabalhos como cineasta, dirigiu os documentários “Infinitamente Guiomar Novaes”, pianista morta em 1979, e “Magda Tagliaferro – O Mundo Dentro de um Piano”, completando de certa forma uma trilogia de grandes mulheres do século 20.
No teatro trabalhou com os diretores Emilio Di Biasi em vários projetos, entre eles “Cordélia Brasil” (1968); Eros Martim em “A Noite dos Assassinos” (1969); Ziembinski em “Vestido de Noiva” (1976), entre muitos outros. Em 2010 participou da montagem de Samuel Beckett “Dias Felizes”.
Entre 1981 e 2009 participou de várias novelas e minisséries nas TVs Bandeirantes, Record e Globo.
Adorava cantar e deixou algumas gravações (Fonte: g1.globo.com):

1959 – “Oooooh Norma” (Capitol/Odeon LP)
1965 – “Meia Noite em Copacabana” (Elenco LP)
1977 – “Norma Canta Mulheres” (Phonogram LP)
2001 – “Groovy – Faixa “Feaver” (Sony Music CD)
Em 1971 exilou-se em Paris por ser perseguida pela ditadura militar, quando chegou a ser sequestrada em São Paulo em 8 de outubro de 1968, uma mórbida coincidência com a data de sua morte:  madrugada (por volta das 3 hs) do dia 9 de outubro de 2013, aos 78 anos.

Maria Tereza Goulart
Maria Tereza Fontela Goulart, Primeira-Dama do Governo João Goulart (1961-1964), era unanimidade nacional, uma musa dos brasileiros, contraponto da ‘rival’  norte-americana, Jackie Kennedy, que já não reinava sozinha como a mais bela primeira-dama do mundo.  Chegou a ser considerada uma das 10 mais belas do mundo pela revista People. Como primeira-dama, fundou a sede da LBA – Legião Brasileira de Assistência, em Brasília, onde organizava leilões e eventos beneficientes. Com o golpe militar de março de 1964, sua família foi exilada no Uruguai. Em 15 de novembro de 2008, venceu um processo de anistia contra o governo e passou a receber indenização retroativa a partir de 1999 e mais outra indenização por ficar impedida de voltar ao país por 15 anos.

JACKIE O
Jacqueline Lee Bouvier (Kennedy, Onassis), a Jackie kennedy ou posteriormente Jackie O. Essa é uma foto de 1970, já depois do turbilhão vivido enquanto primeira dama dos EUA (20.1.1961-22.11.1963), quando seu marido, o presidente John Fitzgerald Kennedy, foi assassinado. Leonina, belíssima, elegante, corajosa e guerreira. Uma majestade.

HELÔ PINHEIRO
Heloísa Eneida Menezes Pais Pinto, apenas porque era a “coisa mais linda mais cheia de graça…” que a história quis que passasse pela frente simplesmente de dois dos maiores gênios musicais brasileiros: Vinícius de Moraes e Tom Jobim. “Garota de Ipanema” lançou ao mundo uma imagem extremamente positiva do nosso país, foi gravada por ícones mundiais como Frank Sinatra e é, ou foi até recentemente, a 2ª música mais tocada de todos os tempos, perdendo apenas para “Yesterday”, dos Beatles.

SUZY ROTOLO
É a garota da capa do “The Freewheelin’ Bob Dylan”, de 1961. Simplesmente isso. Foi fundamental nos momentos primordiais da carreira de Dylan, ficaram juntos de 1961 a 1964, o suficiente para se tornar musa de quem viria a ser um dos artistas mais influentes da 2ª metade do século 20. Dylan inspirou-se nela para compor “Don’t Think Twice, it’s All Right”, “Boots of Spanish Leather”, “Tomorrow is a Long Time”, entre outras. Ela despertou em Dylan o interesse para assuntos de ordem política, direitos civis, e isso refletiria nas canções de protesto ou temáticas ; ela trabalhava no CORE (The Congress of Racial Equality). Ao ser entrevistada por David Hajdu para seu livro Positively 4th Street, disse : “Ele sabia sobre Woody Goothrie e Pete Seeger, mas eu trabalhava no CORE e frequentava as marchas dos jovens pelos direitos civis, e tudo o que era novo para ele “.

BRIGITTE BARDOT
A primeira da sequência de musas que foram descobertas e casadas com Roger Vadin. BB iniciou sua carreira nos anos 50, mas virou musa e símbolo sexual nos anos 60. Trabalhou com Vadin, Godard, Louis Malle, etc. Ela tornou conhecidos lugares como St. Tropez, na Côte D’Azur e Búzios, no Rio de Janeiro, quando esteve aqui com seu namorado brasileiro, Bob Zaguri. John Lennon e Paul McCartney eram grandes fãs e cogitaram em lançar um filme dos Beatles com ela. Bob Dylan dedicou sua primeira canção a ela e menciona seu nome em “I Shall Be Free”, do álbum “The Freewheelin’ Bob Dylan”. Há em Búzios, uma estátua em sua homenagem. Abandonou a carreira artística em 1973 aos 39 anos e passou a atuar como ativista pelos direitos animais. Em 1986 ergueu a Fundação Brigitte Bardot.

CATHERINE DENEUVE
Catherine Deneuve, atriz icônica e símbolo sexual.
 Descoberta por Roger Vadin, com quem teve um filho, trabalhou também com Jacques Demy, Buñuel, Polansky e Truffaut. Foi casada com o fotógrafo inglês David Bailey (em quem Michelangelo Antonioni se espelhou para criar o personagem de seu clássico Blow Up), e teve uma filha, Chiara, com Marcelo Mastroianni. Por suas andanças constantes na Swinging London, ganhou um apelido nos anos 60 : Chelsea Girl. Marcas como Chanel Nº 5, L’Oréal, Louis Vuitton, tiveram seu sucesso ampliado ao se associarem à imagem de Catherine Deneuve. E esteve envolvida em programas políticos e sociais como, Children Africa, Anistia Internacional, Voix des Femmes pour la Démocratie.  Ela ilustra a efígie de Marianne, a figura feminina oficial da República da França, estampada em selos e moedas do país, substituindo justamente Brigitte Bardot, a Marianne anterior.

JANE FONDA
Filha de Henry Fonda, atriz e posteriormente ativista política. RogerVadin foi quem a ‘viu’ com o potencial de sex symbol. Esse redirecionamento em sua carreira ocorreu com o filme “Barbarella”, de Vadin, em 1968, quando eram casados.
Ela trabalhou com outros diretores franceses, Godard e Jean-Pierre Gorin. Em 1972, realizaram um documentário intitulado “Letter to Jane”, em que ambos ficam conversando durante 2 horas diante de uma foto de Jane, já ativista, feita durante viagem ao Vietnã do Norte (ainda não unificado, durante a Guerra do Vietnã). Ela também deu uma guinada de 180º, ao sair de uma imagem de símbolo sexual para ativista política e pacifista.

MARILYN MONROE
Norma Jeane Mortensen, ou Marilyn Monroe, ou simplesmente MM (Foto de Bert Stern). Talvez a mais célebre entre as artistas e sex symbols. Sua carreira desenvolveu-se quase toda nos anos 50, mas a força de sua imagem retumbou fortíssima nos 60, e permanece viva. Trabalhou com os principais diretores e atores de sua época. Em 1999, o American Film Institute a ranqueou como a 6ª maior estrela de todos os tempos. Ela redesenhou a forma de atuar, não com técnica, mas instintivamente, e tornou-se musa imediata de artistas, Andy Warhol por exemplo, e fenômeno pop. Além de atriz, era também cantora e gostava de escrever poesia e pensamentos, que se tornaram famosos. Entre muitas outras frases, escreveu : “Um símbolo sexual torna-se uma coisa. Eu odeio ser uma coisa” ; “Sonhar em ser uma atriz é melhor que se tornar uma ”  e ainda, “Hollywood é um lugar onde te pagam 1000 dólares por um beijo e 50 centavos por sua alma “.

LEILA DINIZ
Poderia chamá-la de ativista involuntária, pelo fato de ser simplesmente como era, que além de bela, foi um divisor de águas em relação ao comportamento vigente, em plena Zona Sul carioca. Uma deusa em Ipanema, símbolo da revolução feminina. Leila tinha coragem de falar em público, na televisão, o que pensava e o que sentia. Um ser anti-AI-5. Entre muitas outras coisas, ela disse : ” Eu posso dar para todo mundo, mas não dou para qualquer um “, e “Todos os cafajestes que conheci em minha vida eram uns anjos de pessoas”. Fez 14 filmes em toda sua curta carreira, já que morreu prematuramente em desastre aéreo sobre a India quando voltava da Austrália em voo da JAL, em 1972 aos 27 anos. Era casada com o diretor de cinema Ruy Guerra, com quem teve uma filha, a Janaína. Nos destroços do avião foi encontrado seu diário com uma frase inacabada : “está acontecendo alguma coisa muito es…”

SHARON TATE
Sharon Marie Tate deve ter sido a beleza mais espetacular da década. Trabalhou em alguns filmes importantes, como, “O Vale das Bonecas”, “A Dança dos Vampiros” e “O Bebê de Rosemary”. Não se considerava uma atriz de grande talento, mas disse em entrevista que procurava se espelhar em Catherine Deneuve, vamos dizer, minimalista, classuda, sem exagero em suas interpretações. Casou com o diretor Roman Polansky e estava grávida de 8 meses quando o serial killer Charles Manson ceifou sua vida em 9 de agosto de 1969, em plena luz de seus 26 anos.

PATTIE BOYD
Pattie Boyd foi inspiração para grandes clássicos do rock. “Something”, que Frank Sinatra disse ser a  mais bela love song de todos os tempos, “I Need You”, “Think for Yourself”, de George Harrison; e “Layla”, “Wonderful Tonight”, “Why does Love Have to be so Sad”, de Eric Clapton. Por isso, é considerada a maior musa do Rock Generation. Linda.

JANE ASHER
“All my Loving”, “And I Love Her”, “You Won’t See Me”, “I’m Looking Through You”, “Honey Pie”, entre muitas outras, são canções que estão para sempre na memória musical de todos os tempos. Foram escritas para ela por Paul McCartney, durante os anos em que vivenciaram uma relação bastante conturbada, de idas e vindas. Mas ficaram as músicas. Uma coisa admirável é o fato de que, no centro do turbilhão que era conviver com os Beatles, nunca externou nada sobre a vida do casal ou o que acontecia em volta. Atriz talentosa, nunca abriu mão de uma postura independente na relação com Paul. 
Classe é classe.

YOKO ONO
Yoko Ono (Lennon) é artista plástica, fez parte do grupo vanguardista Fluxus nos anos 60, performática, compositora, ativista política e autora de um livro conceitual de propostas, o “Grapefruit”. Não poderia deixar de inclui-la, já que foi o grande amor da vida de John Lennon, o que significa que foi inspiração de grandes obras do John, desde que a conheceu, como por exemplo, “She’s So Heavy”, do álbum Abbey Road e “Woman”, do Double Fantasy, um álbum em si todo dedicado a ela e à vida entre eles. E embora muuuita gente a detesta por conta de julgá-la responsável pela separação dos Beatles, a história do casal e muitas músicas – escritas para ela ou por causa dela – deixadas por John falam por 

MARIANNE FAITHFULL
Atriz, cantora, compositora, que deixou o casamento com John Dumbar, galerista londrino, para ficar com Mick Jagger (de 1966 a 1970), já merece estar nessa lista por causa de “Sister Morphine”, canção de sua autoria.  O reflexo de sua vida com Mick Jagger aparece em músicas como “Sympathy for the Devil”, do álbum Beggars Banquet, de 1968, música inspirada no livro “The Master and Margarita”, de Mikhail Bulgakov, que ela mostrou para Jagger. Também, “You Can’t Always Get What You Want”, do Let it Bleed, 1969, e “Wild Horses” e “I Got the Blues”, do Sticky Fingers, 1971, têm influência dela.  “Sister Morphine”, do Sticky Fingers, é de sua autoria. Mas Jagger & Richards registraram a música como se fosse deles. Isso levou a uma batalha judicial. Acontece que o agente de Marianne não arrecadou os direitos musicais em seu favor, porque ela travava outra batalha, sua luta com heroína. Após a separação de Mick, ela perdeu o controle com a droga, chegou a se tornar ‘sem teto’, mas acabou por ganhar a co-autoria da música. Nash, do Crosby, Still & Nash, disse que a canção “Carrie Anne”, gravada pelos Hollies, é sobre aquele tempo de sua vida. E ainda, “And Your Bird Can Sing”, The Beatles, Revolver, 1966, também é sobre ela. Além disso, o tempo que passou com Jagger, coincide com a melhor fase musical dos Stones, excluindo o Exile on Main Street, de 1972.

NARA LEÃO
Ela não inventou a Bossa Nova, mas foi uma madrinha bem importante. E se a Bossa Nova tem uma musa, é Nara Leão. Mas não apenas. Seus pais moravam em Copacabana, um cenário perfeito e o que tinha mais glamour na época, e por volta dos 15 anos, ela começou a trazer os amigos para ouvir jazz, músicas novas para os ouvidos entediados que começaram a frequentar a sua casa. Amigos, amigos de amigos, entre eles alguns ‘fundadores’ da Bossa Nova, como Roberto Menescal (que namorou com Nara), Carlos Lyra, Ronaldo Bôscoli e João Gilberto. Músicas como “O Barquinho”, “Lobo Bobo”, “Se É Tarde Me Perdoa”, foram escritas para ela. Nara distanciou-se por um tempo da Bossa Nova no crítico período em que o país mergulhou após o golpe militar. Ela era uma dessas pessoas que estava sempre na vanguarda dos acontecimentos e na ponta de lança do que rolava em termos artísticos na música, e também engajada com a questão de identidade política e cultural de nosso país. Assim foi com a Bossa Nova, com a MPB, o show Opinião, Tropicália, os Festivais da MPB (ela foi intérprete de “A Banda”, de Chico Buarque, vencedora do II Festival de MPB, lançando-o no cenário musical). Nara estava em todas as frentes, com sua voz intimista (e seus famosos joelhos). Um dia ela disse : “Sou a mulher mais corajosa que conheço. Na intimidade, podem me chamar de Nara Coração de Leão”.

CLAUDIA CARDINALE
Nascida em Túnis, Tunísia, é certamente uma das mais belas mulheres de seu tempo. Pode-se dizer que sua carreira começou aos 17 anos, quando ganhou um concurso de beleza promovido pela embaixada italiana na Tunísia. A premiação levou-a direto para uma estadia em Veneza durante um festival de cinema. Recebeu vários convites para atuar e recusou todos. Mas, 6 meses depois, aceitou a proposta de um produtor italiano e o resto é história.
Em sua vasta filmografia, já nos anos 60, atuou com gênios como Luchino Visconti – O Leopardo, Rocco e seus Irmãos, ambos de 1963 e Vagas Estrelas da Ursa Maior, 1965; Federico Fellini – 8 1/2, 1963; Sérgio Leone, Era Uma Vez no Oeste, 1968. Estava no lugar certo e na época certa: A Era de Ouro do cinema italiano (e todos nós) agradece.
Além de bela e importante artista, de musa, ela é uma ativista apaixonada pelos direitos da mulher (é embaixatriz da Unesco para a defesa dos direitos da mulher desde 1999), dos homossexuais e outras causas. Continua ativa e é casada com o diretor de cinema Pasquali Squitieri desde 1975

fotos: divulgação
fonte:
https://anos60.wordpress.com/2011/11/26/musas-dos-anos-60/





























































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